terça-feira, 11 de novembro de 2014

DAS MINHAS JÁ LONGAS ANDANÇAS




Os povos vão se moldando e mudando de acordo com suas circunstâncias. Certo dia, em Tunis, capital da Tunísia, num congresso de magistrados, estava com  colegas num restaurante. Como  sou um dinossauro, tendo estudado quatro anos de francês no colégio, falei em “français” com o garçon. Todos, naquele país, são, no mínimo, bilíngues: árabe e francês ( por causa da dominação secular). Notei que o garçon sempre me servia em primeiro lugar. Eu não era o mais velho da turma, nem o mais novo e decidi lhe perguntar a razão disso:

- porque você é o chefe, respondeu ele em francês.

Ele deve ter raciocinado assim:  só esse cara fala comigo; logo, ele é o líder . Na verdade os demais nada sabiam de francês.

No Hotel Abu Nawas  perguntei onde poderia comprar uma bolsa de couro de camelo. O rapaz da recepção me indicou o local e me disse.

- não pague o primeiro preço que lhe pedirem e mostre seu passaporte de brasileiro, que daí o preço vai baixar mais ainda.

Fiquei todo orgulhoso da boa fama dos brasileiros.

Depois ele me explicou que minha cara branca e meus olhos azuis fariam crer que eu era alemão ou inglês. Decepção, pois eu pensava que era por causa da simpatia que teriam em relação a nós. Mas não era bem isso.

Voltando a nossos pagos, andei, como juiz, por tudo quanto é canto. Que experiência rica ter saído  para haurir tantas experiências e conhecer diferentes costumes!

Lá nos anos 70 era assim: a alemoada se mijava de medo de Justiça e Polícia. Em Horizontina, que na época era uma cidadezinha cheia de barro, eu acalmava as testemunhas até lhes falando em alemão.  Na zona da campanha era super interessante ( hoje mudou). Não tinha nhenhenhe de briguinhas de palavras entre comadres.  Um peão de estância quer tirar as botas quando lhe ofereces uma carona. Te dá senhoria e é altamente discreto. Mas grita com ele para ver o que te acontece. Ou mexe com a filha dele.  Na campanha a autoridade só é estimada se  se fizer respeitar. Ninguém lhe dá muita bola se  for meio chegado na bebida ou relaxado em pagar as contas.

 Corta para a região de imigração alemã e italiana

Em Arroio do Meio fazia 30 anos que não havia um homicídio. Um dia um sujeito de P. Alegre matou um de Esteio num salão de baile .

O Juri foi no Club Comercial de Arroio do Meio. A cidade parou.  O dr. Koerbes, que era dentista, e fazia parte da lista de jurados, se chegou a mim na véspera do Juri:

- dr. ! dobra o papelzinho com meu nome de um jeito diferente para eu ser sorteado. O que eu mais quero na vida é ser jurado....

Falei assim: “ olha amigo, estou começando a carreira e não vou olhar se tem gasolina no tanque acendendo um fósforo...”

Ele foi sorteado, mas o Promotor o recusou.

Até hoje ele acha que foi tudo combinado.