quarta-feira, 5 de novembro de 2014

SOBRE FALARES REGIONAIS


Funerais lingüísticos

 

Franklin Cunha

Médico

      

E quando a Divindade quer abater a arrogância dos homens  não necessita do raio nem da violência; basta que confunda a sua linguagem, que a unidade da língua seja abolida, e a torre cuja cúspide deveria tocar no céu torna-se uma ruína, como estigma da impotência humana.   

Walter Porzig

em “O Mundo Maravilhoso da Linguagem”.

 

René Etiemble, professor de literatura da Sorbonne, se empenhou em muitos anos de sua vida numa intensa luta  contra o perigo de descaracterização da língua francesa pela invasão incontrolável de palavras inglesas ou, pior, anglo- americanas. Em seu livro Parlez-vous franglais?, editado há três décadas, ele se propõe a defender não apenas o idioma, mas a cultura e o modo de viver dos franceses. Não são apenas palavras de empréstimo que se insinuam no francês - diz Etiemble - mas trata-se de uma doença  metastática que corrói a pronúncia, o léxico, a morfologia, a sintaxe e o estilo. E, segundo recente pesquisa, dois terços dos gauleses são favoráveis à instituição de uma terapêutica radical contra essa grave doença.

Há duzentos anos Rivarol afirmava: “O que não é claro não é francês”. Dessa boutade Etiemble não participa, pois sabe que nenhum idioma é auto-suficiente e nem pode dispensar verbetes alienígenas para permanecer fluidamente vivo e atualizado. Porém a admissão indiscriminada  de catadupas de palavras com grafia, pronúncia, forma e flexão completamente diversas da língua original pode prejudicá-la seriamente, embotando a criatividade lingüística dos seus usuários e obstruindo as fontes genuínas de enriquecimento e renovação.

 A linguagem é uma criação cultural, tornada possível graças a um substrato anatômico e neurológico complexo e único no reino animal. Afinal, ela foi o principal veículo transmissor de toda a cultura e garantiu a sobrevivência e a supremacia desse ramo de primatas ao qual pertencemos. E a maravilhosa diversidade de culturas criadas pelo homem através dos tempos é que fez surgirem milhares de idiomas.

Se estes fossem apenas um meio técnico para o mero exercício do comércio internacional, haveria vantagens e nenhum prejuízo em falarmos todos a mesma língua.  O problema é que signos linguísticos diversos implicam em modos de pensar, de sentir e de interpretar o mundo, igualmente, diferenciados.

Esse é o sentido mais profundo de uma comunidade idiomática específica:  o de ter uma imagem e uma  visão peculiar do homem e do seu universo cósmico e mental. Por isso, quando uma língua se extingue, perdem-se milhares de anos de história do desenvolvimento cultural e da experiência psico-biossocial de todo um povo.

Se o desaparecimento das línguas prosseguir no ritmo atual, o futuro nos reservará  uma uniformização não só lingüística, mas cultural, ética, estética  e mesmo ideológica. E já se tornou um truísmo afirmar-se que na diversidade está a liberdade. 

E se tais liberdade e diferenças já se manifestam na grafia e significados de objetos concretos e singelos, o que ocorrerá naqueles voláteis e complexos conceitos que expressam a mais alta elaboração do pensamento humano tais como o bem, o mal, a liberdade, a opressão, os direitos individuais à vida e todos os juízos de valor no seu mais amplo sentido? Sabemos que a comunidade idiomática se funda sobre a posse comum e consensual de um grande número de tais concepções e interpretações. E, precisamente porque essa concordância é sentida como natural e não como algo especial, os povos se unem mais fortemente pela comunidade idiomática  do que por um discurso ideológico de qualquer origem.  Os judeus de todo o mundo, por exemplo, ao fundarem Israel, se uniram não pelas línguas de seus países de origem, mas pelo antigo hebraico.

Muito se tem realçado o desaparecimento de etnias, de espécies animais, vegetais e de paisagens, mas pouca ou nenhuma atenção tem se dado às perdas lingüísticas e ao papel essencial desempenhado pelos idiomas nas suas respectivas culturas. Para George Steiner, se os funerais lingüísticos continuarem com a freqüência atual, os seis mil idiomas hoje existentes, dentro de um a dois séculos serão reduzidos somente a uma centena ou menos. E, assim, perderemos um preciosíssimo acervo de nossa milenar e diversificada herança cultural que, na verdade, deu relevante contribuição para o atual estágio civilizatório.

A luta pela manutenção de variados idiomas e culturas talvez seja decisiva para a resistência à uniformização totalitária, não apenas lingüística, mas de estilos de vida, de condutas éticas, de sensos estéticos e, enfim, das  liberdades de expressão e de pensamento.       
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JORGE LOEFFLER      



      
Tens integral razão. A qualidade do ensino cai de forma assustadora e o interesse único da juventude que se limita a obtenção do diploma. Faz já alguns dias ouvi na rádio Gaúcha um servidor do estado ser empossado pelo Governador do Estado como chefe de um serviço que deveria ser importante se realmente nos fosse prestado dizer que agora estão usando coletes reflexivos. Naquele exato momento xinguei dentro do nosso fuscão preto até mesmo a mãe dele tal minha indignação.
Hoje é substituído o pronome nós pela expressão a gente e isto ocorre em rádio e televisão. Ler é algo obsoleto no entender desses verdadeiros idiotas onde segundo sei só podem militar titulares de diploma do curso de comunicação social que foi imposto ainda na ditadura.
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LISSI BENDER   

vivemos num país em que um ser humano estuda, no mínimo, cinco anos para entender de leis, mas não precisa mais do que saber assinar o nome para ser político e fazer leis. Praticar leitura, estudar, ... para quê? Se para exercer um cargo de comando dos destinos de nosso país, não se precisa disso. Os modelos a serem seguidos e almejados são constantemente decantados pela televisão. Endeusa-se a moda e as modelos, os jogadores de futebol, o dinheiro, a superficialidade,  o jeitinho, a safadeza, a ociosidade, a zoeira  ( e para tudo isso não precisa de estudo, nem de formação linguística). Tudo constantemente incentivado pela televisão que domina todos os espaços por onde quer que se circule; que impõe linguagem minimalista e uniformizadora, que desconsidera a imensa diversidade linguística existente no Brasil.  Nesse ritmo o Brasil corre sério risco de, não somente deixar de ser um dos países mais ricos em diversidade linguística do mundo, como também de perder sua diversidade  cultural para a qual a língua é suporte